23 outubro 2016

Dias dias

(esse texto não é atual)

Teve um dia bem ruim,  me lembro bem ,  acordei,  me arrumei e pensei que a vida era aquilo,  um looping de nada, uma repetição sem qualquer sentido,  uma mediocridade sem tamanho,  um dia que era exato como o dia anterior, fiz 30 anos, meu trabalho era horrível,  não tinha nenhuma compensação fora ele,  e nele não tinha nada,  exceto umas moedas para ir levando,  fiquei filosofando sobre o quanto sofrer não nos faz mais forte,  nos faz ficar embrutecidos... sem sentir, sem conseguir ver que as coisas poderiam mudar.

Nesse dia eu pensei em me jogar na frente de um ônibus. Não estava deprimida. Eu achava que viver em looping não dava pra mim,  era pouco e não tinha forças pra mudar.  Não tinha forças,  não tinha motivos... Estava cega, ou via tudo... e o que eu via era aquilo. Aquela coisa horrível sem volta e sem futuro. Não me joguei na frente do ônibus ou não estaria aqui,  por um momento pensei que se não morresse seria indizível o sofrimento dos machucados e se eu estava fugindo não ia de encontro a mais um sofrimento.

Passou um ano,  alguns meses. O sentimento opressor de looping nunca me deixou. Tem dias que me acho uma retardada total, nem questiono minhas escolhas ou falta de escolhas,  vou seguindo.  Até o dia que.

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